top of page

De volta ao Haiti

Depois de três anos, revisitar o Haiti renova profundamente a minha convicção de que a riqueza da vida está em valorizar e investir em pessoas. Tive a real compreensão da grandeza e dignidade humanas pisando naquela terra. Visitei nos últimos anos o Chile, Cuba, Espanha, Portugal, Níger, Burkina Faso, Londres, Colômbia, Marrocos, República Dominicana, Índia e outros países que me fugiram da mente, até aterrissar no país mais pobre de todas as Américas. Me senti extremamente reconfortada quando os meus olhos, que já estavam exaustos e o meu peito cheio de amargura, acompanharam tão de perto a superação da miséria e a desesperança tão comuns naquele lugar. Nunca vou esquecer que viajei, pela primeira vez, para o Haiti no dia 24 de fevereiro de 2010, dia do meu aniversário. E naquele momento vivi o medo e a incerteza de chegar a uma terra devastada sem saber o que poderia encontrar, com risco de morte. Os abalos sísmicos permaneciam e o caos e a desordem estavam instalados no país. Para trás tinha deixado as comemorações e pela primeira vez me afastaria da “minha Sophia” por tanto tempo, com pouco mais de um aninho. Aceitei o desfio e afirmo que meus olhos se abriram para o mundo depois dessa experiência. Nunca imaginei que chegaria tão longe... nunca pensei que seria forte o bastante... Mas sempre senti uma certa inquietação em deixar a vida passar observando da superfície e admirando o horizonte. Quando o avião começava a fazer o movimento de decida eu do alto me questionava se realmente aquele era o local que tinha visitado um mês depois do terremoto que devastou e dizimou milhares de pessoas no Haiti. Achei a paisagem bem diferente, com aquela imensidão de construções. Porto Príncipe, embora linda e banhada pelo mar do Caribe, estava diferente. Tivemos problemas na aterrissagem e o piloto teve que arremeter por duas vezes. Eu tentava disfarçar minha ansiedade registrando com fotos o que podia da visão aérea. Mas quando finalmente tocamos o chão e pude respirar aliviada, elevei me dei conta que este não era mais um país pedinte, clamando pela ajuda internacional. O Haiti está renascendo das cinzas, forte como o tremor que chacoalhou a terra. Por aqui ainda persiste a miséria, mas brota no olhar do povo a esperança. Eles choraram por suas vítimas, viveram seu luto e ainda vivem, mas a dor em vez de paralisar os fortaleceu em busca de dias melhores, o progresso está chegando. O princípio dessa virada está na consciência de que a servidão faz parte do passado e que cada um pode ser protagonista de uma revolução pessoal e coletiva. O Haiti descobriu as suas maiores fontes de riqueza inesgotáveis: o poder do seu povo e a grandeza da sua identidade. Com esse exemplo, eu deixei de tentar compreender o quê e o porquê de certas coisas, e tenho tentado entender que não precisamos de explicação, até porque para muitas delas não se tem resposta. O fato é que em minha vida essa experiência gerou ainda mais fé e a consciência de que se aquele povo tão sofrido estava dando a volta por cima significa que todos nós podemos sair da condição de vítimas para nos tornarmos algozes das desigualdades, das mazelas, dos contrastes, da violência, da subserviência e da solidão. Na primeira visita ao Haiti senti medo, na segunda tive a minha esperança regenerada e fortalecida. Algumas vezes a agente precisa de um choque, de um momento de catarse para tirar a venda dos olhos e enxergar tudo aquilo de bom que está ao nosso alcance, principalmente quem está ao nosso lado!


DESTAQUES
ÚLTIMAS
ARQUIVO
BUSCA POR TAGS
Nenhum tag.
bottom of page